Manifesto

sábado, 13 de março de 2010

Há alguns dias eu sai de um hospital sem a recomendação médica, sem aviso ou qualquer despedida. O único vestígio que deixei foi uma carta...

"Se você tiver a oportunidade de matar alguém, não o faça.

Não pelo motivo óbvio de que não é certo fazê-lo, mas pelas consequências que este ato causará na pessoa que o comete. A morte encerra a vida de quem é assassinado, porém os fantasmas perseguem eternamente o autor de tal obra.

Não escolhi ser um assassino, nasci após um assassinato e motivado pela vingança me especializei nesta trágica arte. Aprendi cada detalhe, estudei cada passo até estar pronto. Então os persegui um a um e quando o último estava no chão com o sangue curando minha sede, senti o gosto amargo que mistura satisfação e vazio.

Os momentos que se sucederam foram preenchidos com um silêncio assustador, apenas interrompido pelo toque do telefone. Foi assim que entrei neste mundo, um convite para serviços a pedido de um informante que dizia ter sido salvo por mim. Não procuro justificar meus atos, mas foi a falta de rumo após o vazio da vingança que me fez escolher esse caminho tortuoso.

Matar alguém não é tão simples como relacionam as estatísticas policiais e os jogos de computador, apesar da fragilidade do corpo humano. A morte é um dos momentos mais trágicos para quem a observa. Pavor, medo, angústia, dor, sofrimento, todas as emoções expostas em poucos segundos através da expressão e gritos emitidos. Mesmo quando tudo é instantâneo, a face da morte é perturbadora.

Desde então muitas foram as encomendas. Porém não acrescento números a minha lista, somam-se fantasmas ao meu destino. Troco o dia pela noite pelo fato de poder me esconder dos olhares suspeitos durante o dia, dos rostos tão claros no meio da multidão e também para me proteger. Tenho sempre a impressão que estou sendo vigiado. Perdi a conta dos dias que meus olhos não se fecham com medo dos fantasmas que aparecem em meus sonhos e da fúria da vingança daqueles que perderam alguém.

Não sou vítima, nem vim aqui te convencer do contrário. Quero apenas te dar um recado.

Se você tiver a oportunidade de matar alguém, não o faça."